... somos mantimento de clareiras sem pronúncia.
Sobre
as ruínas
paira
uma sombra ténue.
Demoro-me
no lugar onde as árvores
se
inclinam sobre verbos desatentos.
Exponho
os pés
e
ouço ainda o verão no saibro avermelhado
sob o
tráfego dos nossos passos
quase
clandestinos
quase
imateriais
como
a voz que vem do rio
e já
não respira na nossa boca.
Não
há céu para a claridade.
Pressinto-o
nos azulejos da estação
na
clareira aberta do silêncio
que
sobressalta de ausência os carris tomados de dor.
"Sinto-te a presença suave no calcanhar dos dias
como sensação de te pressentir mais perto ainda.
acerca-se-me calma a viagem por que anseio
sem a catástrofe do indesejado regresso...!"
Neste mapa demorado na memória
o poema cai desamparadamente.
Somos amantes mudos
inquilinos
de um futuro sem candeia.
Sobre
as ruínas nenhuma ave
nenhum milagre.
07 de abril 2024
Aveiro/Lisboa
Foto:Eva Brzowska
6 comentários:
No mapa desamparado da memória estremece a culpa das nossas o obsessões pelas sombras quando procuramos a luz. Nenhuma ave, nenhum milagre suspende o silêncio com que desarticulamos o eixo das palavras com desatentos verbos.
As saudades que eu tinha de te ler aqui na beleza de um poema.
Bem hajas pelo carinho das tuas palavras.
Um beijo, minha Amiga Luísa.
Uma clareira é sempre uma brecha na densa teia que nos enreda no dia a dia.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes
Que surpresa tão grata.
Voltar a ler poesia de tão alta qualidade.
A claridade é pouca para um céu tão ansioso.
As sombras seguem-nos pela cidade em alvoroço.
E somos peregrinos de uma esperança que é quase uma utopia.
Muito obrigada por este poema.
Um beijo
:)
Não há milagres...
E, na verdade, "somos inquilinos de um futuro sem candeia". E, se eu fosse crente, diria que o futuro a Deus pertence.
Este seu poema é brilhante, parabéns pelo seu talento poético.
Não conhecia o seu blog e fiquei encantado com os poemas que li. Embora tenha publicado muito pouco nos últimos tempos, talvez por falta de maré...
Boa semana.
Olá, prazer!
Passando para te conhecer e me deparo com essa belezura de poema. Amei! Lindo demais.
Beijo, beijo.
Sheila (She)
Gostei de reler este excelente poema.
Boa semana.
Beijo.
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