Tudo o que me dói são poemas inacabados
voltar a casa
ser raiz e haste à hora do dilúvio
gemer o vento quando a morte me ombreia os passos
e desvirtua as mãos
consentidas de noite e de flagelo.
já não viajo
(viajar é sonhar em frente)
resta apenas o vago desejo de itinerários
onde o mundo adormece de silêncio
e me esqueço do choro
da dor lilás dos que escurecem sem esperança.
e ainda assim ser
soleira
pedra
espuma
flor sobrevivente da geada ao meio-dia
voltar a casa
dobrar o olhar sobre uma carta de amor
um túmulo de aves
4 comentários:
"voltar a casa
ser raiz e haste à hora do dilúvio"
Chegaste de novo, no teu estilo fabuloso. Sabes que qualquer casa, seja ela qual for favorece a intimidade e é o lugar onde se desenrola a nossa vida. Por isso podes ser a soleira, a porta, a janela. Tudo o quiseres, que palavras não te faltam, minha querida Luísa. Que boa surpresa encontrar-te aqui novamente.
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo enorme.
Que boa Maré, apesar do dilúvio que nos cerca.
abraço (com aperto)
Um espanto.
"E ainda assim ser"
Isto é poesia de fino quilate.
Que encanta desde o primeiro verso.
Beijo.
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