domingo, 5 de maio de 2024

                                                              Se soubesses mãe 

                                                 como as aves esvoaçam aos domingos!

 

De quem é esta pele que me cobre os anos

de onde este vento que sopra a ocidente

esta lonjura que segura a minha mão?

 

O sol nascente na moldura

a preto e branco

como os teus olhos

que me acompanham a vigília

me encorajam os lábios do dia

despidos de gramática.

É salgada a saliva sobre as coisas

quando a ausência nos funde de silêncio.

Esta herança   legitimamente minha

antiquíssima

como a célula que reclama o seu domínio

é polpa madura   

                 matéria invisível

que retém a luz dos fragmentos

como se ainda me amanhecesses

uma alegria sobrevivente

numa persistente e demorada rota maternal.

 


foto: Andrea Kiss

5 comentários:

Jaime Portela disse...

Li e reli.
Encantado.
Porque o poema é soberbo.
Parabéns pelo talento, pela excelência poética que as suas palavras revelam.
Boa semana.
Beijinhos.

J.P. Alexander disse...

Muy lindo poema. Me gusto mucho. Te mando un beso Enamorada de las letras

Graça Pires disse...

Como se ainda me amanhecesses.
Cada palavra a revelar aqui toda a sensibilidade e talento que recebeste como dom por saberes que as aves esvoaçam ao domingo dentro dos teus olhos. Tão belo que comove.
Tudo de bom para ti minha amiga Luísa.
Um beijo enorme.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Cada vez fico mais deslumbrada com a tua maneira de escrever poesia.
Consegue sempre me surpreender pela positiva.
Um poema a enaltecer a Mãe, mas tão belo, tão belo, que até me comove.
A imagem da Andrea Kiss, foi uma boa escolha.
Boa semana com muita saúde e harmonia.
Um beijo
:)

Jaime Portela disse...

Gostei de reler este excelente poema.
Tenha uma ótima semana.
Beijo.