o sol esgueira-se com um torpor manso
sobre a casa da aldeia
lá longe, onde a memória me sorri
como uns braços pequeninos de criança.
eramos inteiros na agudeza de um verão sem calendário
lembras-te? ensinavas-me que o amor
é equação que altera as estações.
era outono e era verão, era natal e era verão
era inverno e era verão.
e sem aviso arde o
tempo sob a pele
e há questões que me sobem ao coração
como se o sol
arquivado fosse uma seringa
- que de quando em
vez -
atravessa as veias e as incha de um plasma
que transborda de lucidez
clara e lavada como as casas mais a sul.
antecipo ao olhar um garrote apertado
para não cegar desse rasgão que se alinha
como aves ao meu corpo desentendido de distância.
digo-te da
matemática só sei uma conta simples:
dividir o amor em pequenas taças e guardá-las
ciosamente para o frio mudo do inverno.
2 comentários:
Voltar à infância, à casa da aldeia, aos braços da mãe, ao lugar onde é sempre verão porque tudo nos envolve e aconchega. Voltar à inocência e nela permanecer mesmo quando a vida sente o rasgão dos dias. Saber resistir. Saber partilhar uma alegria simples e fraterna.
Escreves para me comover, minha Amiga Luísa.
Um beijo enorme.
Ainda me lembro do verão sem calendário... que só aparecia quando o regresso às aulas era uma angústia, porque anunciava o fim dos veraneios em definitivo.
Gosto da escrita da Raquel, seja prosa ou poesia. Conheci-a há uns anos no lançamento de um seu livro e achei-a uma pessoa encantadora.
Boa semana minha amiga de marés.
Um beijo.
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