domingo, 16 de junho de 2024

 


Descer à terra e provavelmente, de bruços, encontrar água...
Maria Quintans

demoro-me na distância

que vai de uma palavra à outra.

ponho-as lado a lado

comparo-lhes a luz e as feridas.

um sol dominante, como um cavalo

rasga o abacateiro do jardim

atravessa os quadrados da vidraça

 e sobe-me até ao último músculo da face.

sobre a mesa uma clareira aberta

desenha círculos sobre círculos

onde pedras e frutos se acumulam.

exponho-me à rota de colisão

quando os verbos soltam as velas intempestivamente

 

mas o corpo é um casulo sem intenção

as mãos permanecem inocentes no seu exílio.

 

nada se guarda que distribua as sementes

à generosidade das águas.

 

despida, sem abrigo, confio à terra a possível ressurreição.

 

foto: Andrea Kiss

8 comentários:

Graça Pires disse...

Encontro-te demoradamente nessa distância que vai de uma palavra à outra. Deixo que as mãos se exilem na inocência das águas e no silêncio da terra. Se a ressurreição vier, que seja pela decifração daquilo que nos devolve a nós mesmos.
Maria Quintans gostaria deste poema que começa como uma epígrafe da autoria dela. Fui apanhada de surpresa.
Tudo de bom para ti.
Um grande beijo, minha querida amiga.

Jaime Portela disse...

Um poema denso e bem estruturado.
E o resultado é excelente, na forma e no conteúdo.
Mas, para o efeito proposto, eu não confio na terra...
Boa semana.
Um abraço.

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Ei!
Passando para ler e
deixar meu
Bjins de boa nova semana.
Vou amar ver você lá np Espelhando.
CatiahoAlc.

Fá menor disse...

"quando os verbos soltam as velas intempestivamente"... Por vezes é necessário, mesmo em "rota de colisão". É que nem sempre nos podemos demorar de uma palavra à outra, sob pena de ferir demais.
Beijinhos.

Lucimar da Silva Moreira disse...

Muito marcante essa poesia e também bonita , gostei muito de ler Maré bjs.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...


por vezes as mãos lançam as sementes
e a generosidade das águas e do tempo
faz com que germinem ...

e por vezes em rota de colisão
o corpo está inocente

muito bom o poema
(como tudo o que leio por aqui)

boa semana.
beijo
:)

She disse...

Muito bom!
Passando por aqui no desejo de uma linda semana para a gente.
Beijo, beijo.
She

She disse...

Muito bom!
Passando por aqui no desejo de uma linda semana para a gente.
Beijo, beijo.
She