quarta-feira, 13 de abril de 2016



" Tantas coisas desapareceram
que nunca mais voltará a desaparecer
nada do que merece viver. "

Paul Éluard



sou hoje a passageira alheada de um comboio
sem paragens. se parar o olhar
a terra ecoa ainda o suor de luas  longínquas.

mas chove e não há sombra de variação
sob o tremor que as mãos desaguam no silêncio.
o tempo é voraz. tem consigo a profecia e a poeira:
o veneno que amputa a palavra  absoluta 
 - a música inteira.

dizem que é assim.
nenhuma ferida se alicerça em lugares
onde os versos libertam aves.

do lado esquerdo
há cidades infinitas. os muros  imaculadamente brancos
tremem e explodem-me no peito.
perpetuam-se como mastros definitivos
à velocidade da carruagem  e da ventania.

a luz tem o peso da memória que nos entra pelos olhos.
 foto: laurence winram

9 comentários:

Luis Eme disse...

O tempo, a luz, a memória...

E a ausência.

(chegou um sinal de ti dentro de um poema)

Manuel Veiga disse...

belo poema.

impossível ficar indiferente ao último verso

Graça Pires disse...

Estes versos libertam aves. E vejo-as voar tão alto que já só são luz sem sombras...
Eu nem queria acreditar que o teu "Marés de Espanto" estava actualizado... Será que é desta vez que a maré enche e transborda pelas margens?
Um beijo, minha querida amiga.

Lídia Borges disse...

Ninguém sai impunemente daqui, desta Palavra tão plena de sentidos.

Um beijo

Lídia Borges

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

emocionada...
que belo momento de poesia.
gostei muito

beijo

:)

Jaime A. disse...

Parte de mim chorou, a outra parte não conseguiu seguir em frente. As palavras mais do que marcam: elas tintam a alma.

lupuscanissignatus disse...

viagem ao centro do coração das árvores

Mar Arável disse...

Em pleno voo

Jaime Portela disse...

Somos passageiros de um comboio que só pára (não gosto do "para" do verbo parar) uma vez, a primeira e a última. Na verdade são duas paragens, mas que coincidem no tempo...
Mas, enquanto dura essa nossa viagem, devemos desfrutar do que vemos e sentimos.
Este poema, como todos os que li por aqui, é magistral. Parabéns pelo talento que as suas palavras poéticas revelam.
Boa semana.
Beijo.

PS: quando não há novo poema, recuo no tempo para ler poemas que ainda não tinha lido. E ainda dizem que o tempo não pode voltar para trás... estamos em 2024 e cheguei a 2016 em menos de 1 minuto...