domingo, 16 de novembro de 2014


Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia

de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.

Herberto Helder




sem ti o sol nasce  e apaga-se.

as ruas alongam-se
como gramática de verbos intransitivos.
as mulheres que passarem
irão  descalças abrir o seio à sede dos filhos.
porém    na nossa casa     os lábios estão magoados
do calor ausente da tua língua.

olha mãe   vê como  vivo ainda
e me exalto no que existe nos teus olhos.
vê como o meu sangue te procura
quando as aves anunciam um medo para o inverno!

 a alma  progride humanamente
 numa órbitra de palavras semeadas sobre a terra
o corpo permanece
constantemente inquieto
atento às multidões atraídas para o movimento das chuvas.    

 na antecâmara do coração

( onde fiz cálculos imprecisos)


 há um silêncio talhado com a medida  de todas as coisas.

foto: autor desconhecido retirada da web

11 comentários:

Manuel Veiga disse...

"os lábios estão magoados
do calor ausente da tua língua..."

dois versos que valem por si um poema.

belo

beijo

Luis Eme disse...

fico em silêncio

e abraço-te.

Jaime A. disse...

O amor e a solidão, sempre as palavras (o verbo também).
Porque será que este poema me bateu tão fundo?

Bem vinda de volta, marés.

Graça Pires disse...

"olha mãe vê como vivo ainda
e me exalto no que existe nos teus olhos.
vê como o meu sangue te procura
quando as aves anunciam um medo para o inverno!"
Que mais acrescentar a estas palavras tão belas e tão sentidas?
Que bom voltares aqui, minha querida.
Um beijo enorme.

DE-PROPOSITO disse...

Estve por aqui

Felicidades

Aníbal Duarte Raposo disse...

na antecâmara do coração

( onde fiz cálculos imprecisos)

há um silêncio talhado com a medida de todas as coisas.


Gostei muito de passar por aqui.

Olívia Marques disse...

Há poemas que não permitem comentários, sob pena de os macular.



Lídia

lupuscanissignatus disse...

talhas o mármore

até ao sangue




Maria disse...

Não sei comentar-te.
Mas foi muito bom voltar a ler-te.

Beijo, Maré.

Graça Pires disse...

E a actualização que prometeste?
Um grande beijo.

Jaime Portela disse...

Mas quando,
no desespero da ausência,
a memória congela,
a visão aninha-se e retorna ao vazio,
as manhãs definham
e os segundos
ficam prenhes de horas escusas.


Vim até 2014 para saborear este seu excelente poema.
E lembrou-me um outro que escrevi há 2 anos e do qual reproduzo acima um excerto.

Tenha uma ótima semana.
Beijinhos.