o sol esgueira-se com um torpor manso
sobre a casa da aldeia
lá longe, onde a memória me sorri
como uns braços pequeninos de criança.
eramos inteiros na agudeza de um verão sem calendário
lembras-te? ensinavas-me que o amor
é equação que altera as estações.
era outono e era verão, era natal e era verão
era inverno e era verão.
e sem aviso arde o
tempo sob a pele
e há questões que me sobem ao coração
como se o sol
arquivado fosse uma seringa
- que de quando em
vez -
atravessa as veias e as incha de um plasma
que transborda de lucidez
clara e lavada como as casas mais a sul.
antecipo ao olhar um garrote apertado
para não cegar desse rasgão que se alinha
como aves ao meu corpo desentendido de distância.
digo-te da
matemática só sei uma conta simples:
dividir o amor em pequenas taças e guardá-las
ciosamente para o frio mudo do inverno.