segunda-feira, 15 de novembro de 2010




a ti, que imagino serena, regresso sempre, no verbo mais líquido


(..) e eu, que um dia te disse que a felicidade é coisa simples que se arquitecta no olhar da luz, desisto da artéria da manhã onde cansei a ilusão e o alinhamento criterioso do que vai caindo com o sol dos poentes sobre o pomar. e entrego-me. maré sem lua e mar - chão, onde os barcos são viagens nocturnas sem guião ou qualquer história que ainda lhe sustente o enredo, acrescento-me em dias febris como se a febre fosse a corrente que me sustem a sede. feita de sombra, raiz e nervo, albergo as noites sólidas que me vão comendo a pele. dolorosamente, como tu dizias, no caminho abandonamos ninhos onde descansamos o cansaço e ferimos as asas no entusiasmo do voo. esqueceste, na tua própria dor, que tudo o que nos habita é a severidade da memória e nela emparedamos as certezas com uma rosa de silêncio sobre a pedra.
não me leves a mal, mas agora que te dou razão, - a saber que a vida é um sopro de destino que trazemos ilegitimamente aprisionado à língua, do tanto que me nasceste e que me é o único logos, espero a palavra decisiva que explique a contenda que me (in)suporta o desejo de somar metáforas à obscuridade de existir: um nó cego de nervuras. e o que não é cama nem enxerga onde estender a lucidez, é apenas a sobra de quistos, quase antigos, onde a dor ainda lateja como verme vivo.
a virtude da vida consiste, apenas, no aceitar que estamos vivos? e se me abandonas, definitivamente, à invasão míope que entope o olhar com que respiro?
outra coisa mãe: arranquei as urtigas do quintal. um destes sábados podo as árvores.


t: gaudio

nota: circunstãncias afastam-me daqui algum tempo, mas o meu abraço a todos permanece inteiro. voltarei... :)

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