Ouço-te na quietude da noite...quase te toco, nas sílabas de uma voz sobrevivente !
terça-feira, 18 de maio de 2010
às vezes falamos de um barco
e de uma língua que alastra à profundidade do azul.
dissolvem-se as trevas
recebe-se a luz com o deslumbre de um parto.
em sobressalto a água exulta
para que o corpo realize o mistério do mundo.
mas a noite chega carregada de enigmas
e um arpão na boca
então a voz sibila dos milénios
os séculos da dor
e os dedos são rastos negros
como mastros
envelhecidos.
às vezes falamos de um barco
e é só um barco.
ao desfalque do olhar
exalamos a cronologia do corpo
e prometemos:
amanhã acordo cedo e remendo a vela antes dos prantos.
t: v. skrypka
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23 comentários:
[rendo-me...]
um imenso abraço,
Leonardo B.
..."às vezes" na manhã seguinte...
o Sol esquece-se de acordar os dedos e as velas ficam por remendar...
mas, sempre chega o dia que os traz de volta à cerzidura...e juntos voltam a abrir as águas e a entornar-se de cor azul...
Um beijo
às vezes falamos de nós
com a imagem de um barco
às vezes falamos de nós
e da vontade que (não) temos de partir no azul do mar que nos espera.
Um beijo, Maré.
esmagada. por tanta beleza!
ABRAÇO-A.
(imf)
navegadora
do
deslumbre
sim, prometemos tanto...
mas a noite aproxima-se rápido demais, cheia de enigmas, como muito bem nos contas...
e é só o barco que nos leva...
beijos Maré
às vezes entro no barco
ancorado
e fico ao largo
porque e sempre
ele
nao sai do porto
imaginário
no azul das ondas.
beij
os dedos...
sempre os dedos
em honesta, doce, melopeia,
na procura da bela dansa
das agulhas,
remendando velas,
enquanto o Sol descobre
as areias brilhando,
os mistérios do mundo...
(beijo, maré)
As perdas!... A esperança do azul... não do verde... apenas do azul profundo, onde estão todas as esperanças e as memórias do que se espera... em conformação que a Luz atenua, faz suave na distração clara dos dias!... Depois... depois, morre-se por afogamento... mais uma vez, na noite escura... onde os fantasmas sobrevivem na escuridão, quase trevas... quase trevas, porque virá outro dia e outra luz... a mesma Luz de sempre e de todos os dias! Como se a Luz fosse uma dádiva da vida!... Que se dá... na esperança de receber a concepção da Luz que mais se deseja e que um dia se perdeu... talvez!... Há quem jure reencarnações da dor e salvação, reerguidas da mais profunda esperança que continua submersa numa corrente que se desloca no mesmo sentido do tempo e seu contrário!... Só a carne não resiste a essa corrente que a fustiga sem dó e só vontade tem piedade!... Ele voltará... quando uma breve partida eterna acontecer!
Escolha entre... beijos e abraços
Às vezes falamos de um barco e da noite e da memória dos afectos: cada vez mais frágeis. Cada vez mais íntimos. Cada vez mais...
Um belíssimo poema, como já é teu hábito.
Um beijo, miúda.
Magnífico!!!
A excelência veio para ficar nas tuas palavras. Sempre,
Um beijo, querida amiga.
a tua poesia tem o "dom" de afugentar prantos. e soltar barcos...
belíssima.
cumprimentos
Excelente
É sempre bom ter um barco
para zarpar
Bj
Lindo poema, Maré... que saudades do espanto das tuas palavras!
Beijos
hoje, amanhã e sempre, a poesia é um barco que navega as águas das palavras. gostei muito, maré. um beijinho muito grande*
...e se de manhã nos atardamos no sonho, são as lágrimas que tecem nas velas a calmaria que nos nega a viagem.
Obrigada
Um beijo
Muito bom mesmo! Excelentes as analogias!
Abraços
noite
companhia dos acompanhados
noite
desassossego dos solitários
a telas das velas
rompe-se ao mais fino sopro de vento
prometo sempre madrugar
mas a alvorada acalma-me a alma
e o calor do leito envolve-me num (e)terno abraço
deixo-te um beijo no profundo e belo que são tuas palvras, maré
l.
...navego sereno nas ondas das tuas palavras...
na voz da noite os barcos são memória.
muito belo!
beijo.
MJQ
A sede das tuas palavras
solfeja-me nas entranhas,
entoa-me um grito
em labaredas,
como se procurasse em ti
o meu próprio acordar!
Beijos
AL
à vezes venho aqui e não vejo novo poema... com grande pena minha...
Querida amiga, boa semana.
Beijo.
Sinto muitas vezes que esse dito arpão me sai da boca da forma mais inesperada quando no fundo, alma e coração são sempre mais âncora e mar calmo do que tudo o que se tem num momento infeliz.
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