quarta-feira, 5 de janeiro de 2011





nunca o deserto escrevera a sua sede, dissera,
nenhuma memória trabalha o corpo queimado na saliva de um naufrágio.
e no entanto, as mãos em concha a suportar um vento íngreme no corpo
o núcleo de uma semente fora do tempo
como um poema irreprimível a abrir o ventre.

um vaivém de luas de Janeiro em vigia pelo chão
e um pássaro é sempre um pássaro.
dilatado de luz
polpa de fruto maduro nas cercanias da carne

há fêmeas nesta língua contrária à exaustão dos dias.
multiplica-nos eternidades nas correntes espasmódicas das marés
geme versos guardados de um poema por cumprir às tuas mãos.

nunca o deserto escrevera a sua sede, dissera.
uma língua a doer, inconfessadamente,
rosa e carne aberta à noite
osso e árvore a nascer uma ausência de ti.

t: lempicka

3 comentários:

Jaime A. disse...

o sofrimento espalha-se em vagas caóticas na busca; sim, a busca, a espera, o deserto, os meses que não passam...

Anónimo disse...

li este poema pelo menos cem vezes quando os comentários estavam off. foi um dos que mais gostei na vida!

Anónimo disse...

deixo-te um link com fotografia de autor identificado e poesia minha se quiseres desfrutar um dia destes:

http://auzencias.blogspot.com

beijos*