sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



ao rui almeida

onde te abrigas? perguntavas.
eu dizia-te que as coisas se multiplicam
como matéria palpável de uma pele de espanto.
nela me deito e faço a cama do prazer em noites sem agasalho
com o embalo dos incêndios que me vão iluminando os dedos.
e se uma árvore me possui com os segredos dos pássaros nocturnos
que alimentam a minha sede, faço-me margem genésica de um rio
deixo crescer heras seculares e é a alma de um verde
que me sustenta os ossos em pastoreio para um desembaraço das sombras.

onde te abrigas?
- do desassossego dos teus olhos
faço um alfabeto a duas mãos e nele interdito a minha fome.
como vês, acumulo o sul à respiração dos dias
e dos tempos de nudez se faz um colo com música de Schubert.


ft: karen hollingsworth

Sem comentários: