quinta-feira, 15 de julho de 2010






desenha-se um corpo na precisão de uma cidade.
anónimo, como os verbos vazios onde os nomes se curvam
à exactidão das mãos contra as quais envelhecemos.
descobrimo-nos reduzidos a uma voz transfigurada
onde o medo obedece à voragem de uma espécie de veneno sobre espelhos.
de nadas é o lugar do futuro que rebenta sob estigmas
e se cola à pele como um luto ilegível.

o mar devolve-nos à desatenção do branco
e legendamos um sono que alastra em círculos
a iludir a pulsação da noite.
a meio caminho o desapego do céu.
dormimos como a sombra do amor sobre as paredes.
a existir no corpo que a ninguém pertence.

tela: klimt

29 comentários:

Maria disse...

O mar devolve-nos a tudo. a nós. ao nosso mais profundo. convida-nos à reflexão. ao não pensar. a amar.
o mar convida-nos a tanto...

vamos?

Um beijo, maré.

A.S. disse...

Por vezes, não há alquimia, nem saber, nem amor, apenas um patibulo. Por vezes, não há prólogo possivel para a nossa vida. Somente a sombra do tempo se passeia.
Resta-nos iludir a pulsação da noite...


BeijO
AL

Anónimo disse...

vejo muito do que quero escrever nas tuas palavras, amiga maré. como se observasse uma pintura e ela estivesse em branco numa das partes. sinto, porém, que não tenho as tintas nem o engenho para acrescentar nada... um beijinho a cores, minha querida.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um desenho em forma de palavras.

belissimo.

beij

AC disse...

O canto do desencanto no encanto das palavras...
Às vezes, na pulsação da noite, ainda brilham estrelas.

Obrigado.

Manuel Veiga disse...

que a cidades sejam povoadas de corpos incandescentes...

e todas as marés sejam espanto no olhar dos poetas.

admiravel poema.

beijos

Virgínia do Carmo disse...

De sombras e lutos visto os olhos, que crescem à força da tristeza...

[Amanhã regresso aos dias... ]

Beijo sentido, Maré!

Graça Pires disse...

A exactidão das mãos contra as quais envelhecemos recorda-nos todos os instantes a ternura e da raiva, do instinto e da razão, da magia do mar que nos devolve ao corpo o sossego e as tempestades das marés...
Belíssimo e inspirador poema!
Um beijo grande, Maré

Lupuscanissignatus disse...

o tempo

a noite

o corpo

o mar


- todos te convocam para fonte de luz



*beijo
boa semana*

Mar Arável disse...

O mar exacto

não é propriedade

nem proprietário

é mais que céu

Bj

© Maria Manuel disse...

sempre belo, ainda que diga do desencanto e do medo, dessa cidade onde não somos mais que anónimos, desse espelho que nos revela dia a dia o nosso envelhecimento ou da noite onde perduram as nossas insónias. mas o mar, o mar, Maré, poderemos navegá-lo?

beijinho grande :)

Anónimo disse...

Adoro Klimt... e o poema é de uma beleza rara. Boa noite

maria josé quintela disse...

também legendamos os sonhos maré…



beijo.

Nilson Barcelli disse...

"...como os verbos vazios onde os nomes se curvam à exactidão das mãos contra as quais envelhecemos..."
Belíssimo poema. Gostei imenso, querida amiga.
Beijos.

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

Dois extraordinários quadros

Sobre os rostos ausentem-se os olhares
Das linhas sobre o corpo adensam-se a linguagem
Nas mãos exigentes decifráveis gestos
“dormimos como a sombra do amor sobre as paredes.”
Na exegese gregoriano de um canto

Licínia Quitério disse...

O desencanto, a certeza do nada em nossas mãos. Talvez o mar...

mariavento disse...

Sempre bela a forma como escreves.

Ana Oliveira disse...

Pelo gosto de vir aqui ao encontro das palavras sentidas deixo no meu blog um mimo de agradecimento.

Um beijo

Gabriela Rocha Martins disse...

comove.me o "espanto" com que te leio .... sempre



.
um beijo ,Luísa!

Jaime A. disse...

dormimos como a sombra
e a vacuidade vai passando,
na alba manhã
que se descora,
desvanece



(gostei muito,
cada vez mais perfeita :)

Anónimo disse...

querida amiga, sinto-me perto de ti. estou em cantanhede, em trabalho. espero-te bem. um beijo.

Henrique Dória disse...

Maré viva.Maré bela.
Beijos

Amita disse...

E que a noite se povoe de incandescências e que na seiva das marés continue a florescer a excelência da palavra.
Um bjinho grande

Luis Eme disse...

parece que sim, o mundo é tanto isto (cada vez mais...).

bjs Maré

VFS disse...

todo o percurso é um rascunho em tentativa
que se executa na sensação do decorrer.

é normal o acontecer das camadas,
o renovar da tez,
no desperdício dos instantes.

mas caminhamos a desejar o inverso do sentido,
num sentido que se versa aos pés

só a mão cria o vazio do além,
num suspiro transpirado,
que cede à sede do apelo:
irás descansar!

e o véu lúgubre não é ilusão.
é o renascer que nos aguarda!

eis porque o sonambulismo inflama a chama do que se fez!

beijos

KrystalDiVerso disse...

A permanência solitária apoiada no lancil cinzento de um apeadeiro perdido entre o sono e a vontade de não adormecer, é um manifesto que perdurará no silêncio do anonimato!... Os corpos movem-se dentro do corpo e as cidades povoadas de indiferença são esconderijos quase perfeitos... de abrigos!... O corpo continua abandonado pagando as contas do sono... enquanto a cidade não dorme... nunca! O corpo não pertence a qualquer lugar que, talvez, há muito deixasse de fazer sentido e a inerência da sombra é quase uma obrigação só perceptível na perda dos sentido!... O sono de todas as noites, chega todas as noites mas não basta. E as sombras continuam um lar acolhedor sempre ao dispor... dos corpos! Esquecidos.





Escolham entre... beijos e abraços

maria josé quintela disse...

um beijo maré.

Graça Pires disse...

Mas que "vadiagem" é esta?
Beijos, miúda.

Jaime A. disse...

Estamos à espera do próximo.
Quando regressas?
Bjs