domingo, 13 de junho de 2010




refugio-me nas palavras pronunciadas sobre um corpo em fuga.
qualquer manhã serve à confissão dos vestígios que a noite lega
silenciosamente quando escolhe um recanto para morrer.
nada deixou de um antigo fulgor de mãos inocentes
nem sinais onde intentar outra respiração.
nenhum nome na boca. nenhuma cintilação largada de mundo.
apenas sede. e a imolação do pensamento.
com a língua das histórias infelizes
costurada à pele. regressamos tristes para mais uma noite legível
carregados de pranto na sólida memória das viagens.
iniciamos a marcha definitiva a construir o corpo do esquecimento
na corrente incansável dos rios.
os braços longos como margem das ausências.
um sorriso a morder-se a si mesmo:
a explicação incompatível de estranhas pedras de sangue.


t: j. pomar

25 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Um prazer em ler-te , única , única , Maré ...
No recolhimento exigido pelas tuas palavras ,

a ti a minnha vénia
_____________ JRMARTO

Virgínia do Carmo disse...

tantas são as madrugadas e as manhãs que nos sorvem à sombra do sangue corrosivo da memória das noites...

Terno beijo

Mar Arável disse...

Os rios já projectavam sombras

muito antes das pontes

Bjs tantos

AC disse...

Leio o poema, releio...
As palavras, ziguezagueantes, são construtoras de percursos em desencontro, ou em encontro no desencontro. Insinuam veredas doridas, feridas em aberto, uma quase resignação...
Leio, releio...
Ah, as palavras!

Romeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

A mim também se me escapa entre o olhar e as mãos as coisas que mais amo... mas dizem que a culpa é minha... portanto, tenho de repensar a vida e verificar muito bem onde está essa culpabilidade e, o que fazer para a anular!

Boa semana

Anónimo disse...

obrigada. Maré. pelas "rosas".


beijo.

muito.

muito.

muito.


imf

Graça Pires disse...

Quando as palavras servem de refúgio a um corpo em fuga, elas serão o abrigo, a fonte, o silêncio, o trilho onde as emoções se soltam...
O teu poema é fantástico!

Um grande beijo e saudades, miúda...

Licínia Quitério disse...

Não sei comentar. Cada poema teu é uma maré de espanto.

Beijo.

Ana Oliveira disse...

Obrigada.

Um beijo

Ana

Luis Eme disse...

as palavras são sempre um bom abrigo, de noite ou de madrugada...

bjs Maré

Maria disse...

cresce um rio dentro de mim prestes a desaguar na noite
alongam-se os braços inutilmente em busca das ausências
enquanto da lágrima resta um cristal de sal no rosto...

beijo, Maré.

Anónimo disse...

não leves a mal dizer-te apenas que também gosto muito de júlio pomar e que adorei esta tela neste poema. não sei mais que dizer... um beijinho grande*

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um corpo em fuga...palavras sentidas, e belas, para uma belissima imagem.

um beij

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

Entre a noite e o dia
Se faz o sonho
Resistente desejo
“Na marcação da luz do dia"
Na antinomia do corpo
Se faz absurda contradição

Gosto da densidade delicada dos teus textos

Gosto também deste quadro de Júlio Pomar

Deixo-te aqui uma passagem de um poema de Al Berto

“combinara o encontro no limite deste século
onde nenhum homem dorme no limiar do dia
e o sonho se desfaz sob a nocturna incerteza”

Al Berto, “Combinara o Encontro no Limite deste Século”, in O Medo


Obrigado

Nilson Barcelli disse...

e a imolação do pensamento.
com a língua das histórias infelizes
costurada à pele.
Excelente, querida amiga.
Beijos.

Gabriela Rocha Martins disse...

cada vez mais apurada a tua escrita ,Luísa


amei



.
um beijo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

repassei.

bom fim de semana!

beij

maria josé quintela disse...

muito belo maré!




beijo grande.

KrystalDiVerso disse...

Mais uma corrida... mais uma viagem!... Mais recordações de regressos que nunca partiram, de lágrimas nunca choradas e de choro sem lágrimas que os olhos preferem guardar na Alma!... Flutua o retrato da memória num quadro parado no tempo... á beira Mar, sempre à beira Mar!... Observando a Caravela traçada numa tela de sal que a ilusão lambe até ao desejo obsecado da sede!... Um dia virá o vento e com ele o movimento que quebrará o elo da âncora... que a levará!... Da esperança.


Boa semana



Escolha entre... beijos e abraços

Luas disse...

Gostei imensamente desse teu poema. Parabéns!


____Um beijo maré?!

luís filipe pereira disse...

"iniciamos a marcha definitiva a construir o corpo do esquecimento
na corrente incansável dos rios": excelente trecho de um texto ao ritmo e sabor das marés matinais que a poesia atiça.
grato pela partilha
filipe

Jaime A. disse...

Lindo! Metáforas cada vez mais depuradas, ritmo do poema cada vez mais cadenciado. Um excelente poema.
Um grande beijo, maré.

lupuscanissignatus disse...

das entranhas

dos

seixos


[brota um canto
que nos bebe]