segunda-feira, 5 de abril de 2010




quando cai o pano sobre o ruído do dia
um astro colide na têmpora da terra.
inocentemente
desce a rua
aberta aos presságios da cidade
__ uma mulher de branco
cruza-se nas pálpebras da noite.
traz com o sopro do mar
a história dos amantes
e um ensaio de dedos
terrivelmente abortados de escuridão.
só os olhos refulgem:
incessantes recados
na amantíssima relação das sombras.
é uma mulher a esvair-se de branco
à procura de um leito de poeiras para morrer.


foto: autor desconhecido ret da net

22 comentários:

Jaime A. disse...

é uma mulher,
branca de cristal,
na busca insana,
pelo lábio retorcido
de uma noite,
perda de sentido,
de caminho...

Nilson Barcelli disse...

A excelência dos teus poemas são uma constante.
Gosto de te ler. Definitivamente.
Querida amiga, boa semana.
Um beijo.

Mar Arável disse...

No branco linho

se tecem

palavras navegáveis

Haja um barco

Licínia Quitério disse...

"só os olhos refulgem"
na "relação das sombras"
"cai o pano"
sobre "a mulher de branco"

Deixaste-me assim, cruzando a noite...

Abraço, belíssima Poetisa.

Maria disse...

São brancas as flores que cobrem o caminho por onde passam as palavras que te escorrem dos dedos quando escreves assim...

Um beijo, Maré

Anónimo disse...

DEPLORÁVEL E AO MESMO TEMPO ANGUSTIANTE!

PRECÁRIO...

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

cai o pano num teatro que é a vida.

gostei de ler-te.

um beij

Graça Pires disse...

"uma mulher a esvair-se de branco".
Branco de açucenas e de luar. Branco como os seixos das nascentes.Branco como a litania da neve quando viramos os gestos do avesso para chegar à "Montanha Mágica" que é a nossa...

Luis Eme disse...

uma mulher...

uma rua, um mar, uma história...

um olhar...

entre sombras, entre amantes...

um pano branco...

e bjs Maré

A.S. disse...

Tudo ruiu.
os seus escombros
são o mais intenso e branco túmulo
de uma mulher que apenas pede
que nenhuma luz
venha acordá-la...


Maré, ler-te é um puro fascínio!

Abraços
AL

© Maria Manuel disse...

os teus poemas tocam-me fundo. quase nunca sinto vontade de os comentar, e não leves a mal. é que não tenho palavras para o fazer. são poemas de ler em silêncio, de entrar por mim dentro. e qualquer palavra que diga, sinto que os vai desvirtuar. porque são perfeitos. de uma beleza tão pura, mesmo quando de tristeza ou melancolia. de imagens tão belas, inesperadas. poesia.


beijo grande. obrigada.

lobices disse...

Os teus poemas merecem a minha vénia
...........................


"...quis ser um poeta que tivesse asas... e poesia em cada voo... quis ser um poeta cujas palavras vos enchesse a casa... e que vos reencontrasse em cada dor... quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e terra... e que com todos esses elementos criasse um novo ser... mas há poetas que são simplesmente poetas... há poetas que ainda nem sabem que o são... há poetas... imensos... tentei um dia ser um desses poetas... e sei hoje que um poeta nunca morre... faz-se em vida mesmo na morte, soltam as asas e levam-vos o vento... protegem-vos e fazem-se ao caminho convosco... peregrinam em vós... que com ele caminhais... bebeis o sorriso dos poetas... vedes pelos seus olhos, e por detrás desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da vossa própria alma... e é em dias de negro e frio que mais precisais dos poetas... porque eles são fonte, força e semente... um poeta nunca mente... ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa madrugada e o fim de tarde... a vossa lua nova ou lua cheia... são perenes todos os poetas... nascem e renascem... mesmo sem nunca morrerem... nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir... quis ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo... podemos ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e deturpados... simplesmente somos quem somos ... podemos ser retalhados, citados e aviltados... podemos ser usados como arma de arremesso... podemos ser teorizados e complicados... podemos ser mistificados e cristalizados... podemos até servir de pasto em chamas inquisitoriais... não somos orações, nem homilias nem credos... e não nos deixamos cair... não somos ameaça do fim do mundo... não somos propriedade de ninguém... não somos espada nem guilhotina... não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se apropria... somos apenas poetas... somos simplesmente imensos... não cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia... somos de todos os tempos... não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra... somos apenas asas... não somos anjos... somos apenas amor e amamos... e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de dor e de amor... sei também, como sabem todos, que não há palavras nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num anjo..."

Gabriela Rocha Martins disse...

há quem nasça POETA sob os auspícios dos deuses

tudo o mais é aragem




.
um beijo

Anónimo disse...

já tinha lido estas palavras ante ontem, mas só hoje fui capaz de te dizer o quanto me tocam... beijo*

Virgínia do Carmo disse...

O pó é da noite, e dissolvem-se nela as sombras de todos os brancos...

Beijo terno (sempre)...

pin gente disse...

nada se entrosa como as sombras.
beijam-se em segredos,
penetram-se até se tornarem unas e adejam silenciosamente ao sibilo do vento. batem e debatem-se, lambem-se e comem-se, transmutam-se perante olhos bociabertos e ouvidos que se julgam surdos.
têm medo da escuridão total, quando a noite fecha os olhos e cega. há uma hora em que a sombra morre. encerra-se por momentos o último raio de luz.


um beijo, maré

pin gente disse...

errata: boquiabertos

maria josé quintela disse...

uma mulher de branco na noite já é um presságio.




um beijo maré.

Nilson Barcelli disse...

Na falta de novo post, desejo-te "apenas" uma óptima semana.
Beijos, querida amiga.

Manuel Veiga disse...

amantíssima Poesia. a tua.
corpo sublime que abre sempre, mais e mais, ao prazer de leitura...

beijos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

deixo o meu abraço.

boa semana!

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

Transitando nos lagos perdidos dos meus passos
Aqui fixei-me suspenso
De instantes adiados em passagem
Em agradável poesia
Desenhada na delicada parábola
De quem desenha a vida por dentro

Também gosto das magníficas imagens e do som belíssimo que aqui cintilam.
Muito agradável.