terça-feira, 20 de abril de 2010





acerto o corpo ao vagar dos desertos.
escrevo agora como quem sabe que o dia se esgota
antes da confissão que arde a tarde.
devagar digo a passagem da luz
para aceitar o sacrifício das árvores
quando os pássaros são destinatários tristes a confundir-se na razão das sombras. chego ao lugar reconciliado ao desassombro
onde guardo o rosto cego. mais longe do milagre.
sem ouro nos bolsos digo amor
a dizer a brutalidade das pedras
e ninguém nota o fio de sono que me atinge a voz:
os barcos fazem-se ao mar já perto da morte.
vês?-alguém me diz- está a chover!
então lembro que só nos despedíamos depois das chuvas.



foto: k. Ch

30 comentários:

Breve Leonardo disse...

[aninham-se as vagas, para deixar passar a sombra das marés... clara a lua, que incendeia a palavra]

um imenso abraço,

Leonardo B.

Lídia Borges disse...

Um belíssimo poema.
A despedida depois da chuva... Uma imagem marcante.

Um beijo

Mar Arável disse...

depois das chuvas

os desertos escancarados

uivam por novas marés

Bjs

KrystalDiVerso disse...

Há momentos que nos afogam em desertos das sombras de nossso último suspiro!... E, desertos, também já desertos de suspiros reflexíveis, abandonamo-nos no releixo como passagem dos outros!... Ali, somos terra esquecida na sombra de um muro intransponível de nimbos. Ali, em mares cavados, a terra não é arável e o silêncio das palavras fustigam a Alma!... Reze para que a chuva volte!...




Escolha entre... beijos e abraços

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

continuas a escrever (sempre) bem poesia.

gostei do poema e da foto que o acompanha.

um beij

A.S. disse...

e assim, a noite se precipita
em leitos de chuva,
com o rigor de um crime,
no arfar de um corpo agonizante.
na debandada dos pássaros...

Beijo
AL

Jaime A. disse...

os pássaros recebem, lentamente, as sombras ou a tristeza;
tem de chover para que nos posssamos despedir (bem-aventurada a chuva-que-não-passa...)
Beijo de meio de tarde, maré

Luis Eme disse...

pois não, ninguém nota o fio de sono que te atinge a voz...

porque os teus movimentos são vivos, enquanto procuras a água das chuvas para refrescar a memória...

beijos Maré

Maria disse...

Belas imagens que me ofereces com as tuas palavras. Parece que este ano não haverá despedidas. O que é tão bom...

Beijo, Maré

Graça Pires disse...

"digo amor
a dizer a brutalidade das pedras
e ninguém nota o fio de sono que me atinge a voz"
Como se procurasses uma fonte e percebesses que todos os incêndios nascem nos teus olhos...
Sempre muito belos os teus poemas, miúda.
Unm beijo.

Nilson Barcelli disse...

Ando a precisar de acertar o corpo (e a mente) ao vagar dos desertos...
Querida amiga, mais um excelente poema que nos ofereces. Gostei imenso, parabéns.
Um beijo.

V&P Eventos disse...

Terno adágio na quimera de um milagre...

Beijo comovido, Maré...

Anónimo disse...

bom dia! é hora de acordar! e não chove :) até já... beijinhos*

lupuscanissignatus disse...

gota

a

gota


es.corre
o corpo
pelas pedras
do tempo


*bom-fim-de-
semana*

lobices disse...

...e no meia dos pingos de chuva eu li as tuas lágrimas feitas palavras...
...excelente

Licínia Quitério disse...

O fio de sono, a chuva,os barcos saindo. Só depois, só depois...

Triste e belo, como sempre.

Um beijinho.

mariavento disse...

Belo como sempre.

Aníbal Duarte Raposo disse...

Lindíssimo poema.

-alguém me diz- está a chover!
então lembro que só nos despedíamos depois das chuvas.

Gostei muito de o ler.

Amita disse...

Tantas e tão indecifráveis palavras são-nos sussurradas no fio dos sonhos... contudo, nelas navegamos sob o pêndulo das marés.
Como ser lindo que és, repara no brilho azul do horizonte indefinido... :)
Um bjinho grande e uma flor

© Maria Manuel disse...

tão belo, tão comovente, tão único!

beijinho, Maré.

Náná, a emergente disse...

O milagre -espera- nas chuvas
suspensas...


Um dia...


Um beijo, Maré.

Jaime A. disse...

vês?-alguém me diz- está a chover!
então espanto os restos de poeira,
as passagens,
os ritos de aceno;
vagou a tarde,
sublinho o leito,
o cansaço pardo,
leviano, até;
então, parto,
as mãos desfeitas
no torvelinho de chamas
de passados estrangeiros.

pin gente disse...

meu amor, dizes-me o que tens nos bolsos?
não espero que seja ouro ou prata, mas uma pedra bruta que chamou os teus dedos.
dizes-me, meu amor, o que tens nos bolsos?
tomara uma pétala de luz que roubaste ao meu olhar!
tomara uma pena que do meu coração esvoçou e no chão caiu.
tomara a semente milagrosa deste amor que é nosso.
tomara um sopro que ventou da minha boca e a ti chegou às costas da aurora.
dizes-me o que tens nos bolsos, meu amor?


gostei muito das tuas palavras
um beijo, maré
luísa

Manuel Veiga disse...

de oiro puro. teu poema. limpido e sereno...

(mau grado a "brutalidade das pedras". e a chuva que teima...)

é bom seguir o "fio da tua voz". que dizes de sono e que diria habitada pelo "fogo da tarde"...

beijos

Gabriela Rocha Martins disse...

belíssimo - como aliás todos - este teu poema

há cheiro a maresia....
....e já saudade!



.
um beijo

© Maria Manuel disse...

vim reler-te. beijo.

isabel mendes ferreira disse...

nunca me despeço de si.



nem com a chuva. tenho sempre a imagem do seu sorriso. SOLAR!


obrigada Mará Alta.

Graça Pires disse...

Andas por onde, miúda?
Um grande beijo.

Luis Eme disse...

vim só dizer-te, olá, enquanto o sol se esconde, como se mergulhasse no oceano, para lá do Tejo...

bjs Maré

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

boa semana!

beij