terça-feira, 23 de março de 2010





não regressarei à lei convulsa da cegueira.
pertenço por inteiro à flor que explode nas ravinas
e se agita como crina incendiária.
neste corpo insano e tão urgente
atravessado de um pulmão tremente
recebo-lhe o estrondo
o sangue a planura o lago

possui-me.
desamparadamente
entrego-lhe a desmesura a revelação
o rastilho louco das metáforas.

parto com as últimas chuvas
no galope da loucura
__ a cama ainda desfeita

e se ouvirem estalar o vento
como se todas as dores
pesassem as manhãs
não ousem falar da minha morte.
serei ainda que deserto
inocentada de medos:
vagabunda língua na enseada de um cacto.



foto: h m pires de sousa e katia ch.

30 comentários:

Luis Eme disse...

e regressas com os raios de sol...

outra, talvez mais serena...

talvez...

bjs Maré

Lídia Borges disse...

Um poema intenso em que as palavras se interligam com a naturalidade das pétalas numa flor.

Ianê Mello disse...

Belíssimo poema!

Quanta intensidade encerram suas palavras; quanta urgência no sentir.

Parabéns!

Bjs.

Mar Arável disse...

Poema militante da vida

Flor que explode nas ravinas

está mais viva que todas

as metáforas vagabundas

Bjs

isabel mendes ferreira disse...

cacto que dá sempre flor.


sempre.


sempre bela.

beijo.

Manuel Veiga disse...

poema "militante da Vida" o declara o Mar Arável, numa síntese perfeita...

torrencial e indomável! belíssimo no seu encadeado de poderosas metáforas e imagens poéticas...

beijos

Breve Leonardo disse...

[quando o mundo ainda se movimenta, não há razões para alarme... a vida acontece!]

um imenso abraço

Leonardo B.

Licínia Quitério disse...

A vida! Vibrante. Desmedida força de atravessar todo o deserto, de beijar a maior aspereza, se tanto for preciso.
Ah Maré, que belo poema!

Beijo, beijo.

Graça Pires disse...

A vida faz nascer o poema. Nas entrelinhas podemos ler as entregas e as recusas de um amor por cumprir...
Um beijo minha querida anmiga.

pin gente disse...

flor sabedora das agruras
desponta de um espinhoso manto
(pre)enche de beleza o ar que a respira
e explode serenamente em paixão.


um beijo, maré
luísa

Virgínia do Carmo disse...

Por vezes, não regressar à "lei convulsa da cegueira" é preciso.

- E ver torna-se urgente...

Beijinhos...

maria josé quintela disse...

“pertenço por inteiro à flor que explode nas ravinas
e se agita como crina incendiária.”
um enunciado de libertação que desafia qualquer tipo de morte.


beijo maré

lupuscanissignatus disse...

ébrio

galopar


[raio
a
estilhaçar
penhascos]



*um beijo,Maré*
*bom-fim-de-
semana*

Henrique Dória disse...

Vagabunda língua...Lina expressão!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema belissimo com um toque de sensualidade qu eu gostei de ler.

destaco esta passagem que acho sublime:

"parto com as últimas chuvas
no galope da loucura
__ a cama ainda desfeita "

um beij

© Maria Manuel disse...

"pertenço por inteiro à flor que explode nas ravinas",
tu, intensa de sentidos e imagens, contra o vento e os medos, aqui te aguardamos sempre, na tua fabulosa poesia.

beijinho, Maré.

lobices disse...

...a necessidade de aqui vir ler-te

A.S. disse...

Na flor que explode nas ravinas
se grita a completa nudez
a urgência da posse
no galope da loucura.
a voracidade da lingua
lambendo as feridas
sobre a ferida ardente!


Abraços!
AL

Anónimo disse...

este teu poema realça a importância de ouvir o que se lê em simultâneo, como se por trás das palavras uma banda sonora nos cantasse as verdadeiras palavras ali escritas... belíssimo, maré*

beijinhos estupefactos!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

beij

lua prateada disse...

Maravilhoso amiga, não conhecis mas voltarei...
FELIZ PÁSCOA!...
Olá...............passei para te convidar para minha festa!passa lá e te diverte...Obrigada pela presença...Beijo de prata

SOL

Jaime A. disse...

Caminho convulso entre restos de mim. Talvez recorde tempos felizes, gratos de vida. Sei hoje que já não tecerei mais quimeras. Arrasto todo o meu passado na repetição tragada do remorso. Aos aromas de primaveras recordadas nada sobra, a não ser a fuga de inteiros soluços.
Voltei. Trago entre os polegares a evolução fugaz de uma espécie que teima em caminhar com os olhos postos nem sabe onde.

hfm disse...

Feliz descoberta. Belissimo poema.

Aníbal Duarte Raposo disse...

Poema lindíssimo.
Abraço

Nilson Barcelli disse...

"pertenço por inteiro à flor que explode nas ravinas
e se agita como crina incendiária.
neste corpo insano e tão urgente"

Magnífico. O teu poema é uma delícia. Parabéns por tamanha inspiração poética.

Boa Páscoa, minha amiga.
Um beijo.

Maria disse...

Saber-te liberta galopando vagabunda a vida
desejar-te o regresso assim que o vento uivar de paixão
por ti

beijo, Maré.

mariavento disse...

Excelente...como sempre!

Inês disse...

Adoro ler uma poesia de verdade de vez em quando.
Inteira!
Parabéns!
Um abraço!
Inês.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

sempre um esplendor , sempre!
abraço , Lua!

_______ JRMarto

isabel mendes ferreira disse...

eu só ouso falar de



admiração!


(e de muita ternura) e de agradecimnto pelo que me.nos oferece.


beijo.