domingo, 27 de dezembro de 2009





um dia
não haverá uma palavra sequer que fale de nós.
muito tarde saberemos como a frio consumiu a tenra seiva
que nomeia o nome das coisas.
só o silêncio vingará como saliva proibida.
falsos profetas dentro das sílabas
no centro de uma voz que não foi tocada
seremos filhos de uma noite sem verbos
__ é a lua uma casa doce onde se possa morrer?
em ciclos que empobrecem o calor do sangue
procuro dar à luz a tangente asa de lume
onde arder o corpo no arquejo dos amantes
ou uma rosa ilícita onde descer as mãos.
uma pele cúmplice
ou um tempo de desígnios
em que erguer as pálpebras coincida com a vida
para que me digam do amor: eterno iniciador da fome
de uma língua plena onde nascer.




foto : autor desconhecido. ret da net
e p. césar

32 comentários:

Lídia Borges disse...

Um dia seremos mudos, mas até lá que a poesia reviva em cada verso livre como o vento.

Um Feliz 2010

Luis Eme disse...

um dia...

bjs Maré

Jaime A. disse...

Um dia o verbo já não nos designará; há, no entanto, a esperança em jeito de sombra na língua que falámos e que "da lei da morte nos liberta".
Lindo, lindo o teu poema.
Um bom ano, se não cruzarmos antes :)

Maria disse...

que te digam, então, do amor.
belo! belíssimo poema!

Um beijo, Maré

Henrique Dória disse...

Maré de ternura a que aqui encontramos.

maria josé quintela disse...

um dia, maré, não será preciso nomear o nome das coisas.


o amor será uma língua transparente.


beijo.

Virgínia do Carmo disse...

Muito bonito, Maré... constróis cenários póeticos como poucas pessoas que eu conheço...

Beijinho terno e votos de um feliz e abençoado 2010...

Mar Arável disse...

A sede não tem limites

mesmo quando estamos perto

das fontes

Tudo de bom
de novo

A.S. disse...

Sublime este texto Maré!

Na verdade, tudo hoje se consome no desalento da posse... mas o amor será sempre uma lingua transparente que nos absolverá do caos...


Um beijo
AL

lobices disse...

...belíssima poesia...

Licínia Quitério disse...

E com a linguagem do amor nomearemos as coisas por dizer.

Desejo-te um ano de paz, claridade e a continuação de poemas de altíssima estatura.

Um beijo.

Graça Pires disse...

Um dia todas as palavras serão tuas para que possas iluminá-las assim.
Um grande beijo, Maré.

Manuel Veiga disse...

gosto muito do poema. mesmo muito...

não pelo que diz (banal?). mas pela forma como diz...

imagens poéticas dificilmente igualáveis.

beijo

lupuscanissignatus disse...

e
r
e
c
t
o

dia.lecto




*2010
inspirador,
Maré*

isabel mendes ferreira disse...

é a lua que move as marés!


é a casa que rasa e rasga o texto.


é o dia sempre outro quando aqui chego.

já deserta de verbos que se assumam como elegia.


que Lua nesta Maré....!


beijo.

batista disse...

há muito, muito tempo, outra vez menino, indagava da beleza das coisas. uma pessoa, mui querida, ora n’outro plano, naquela ocasião, sobre a lua, dizia que sua beleza maior residia na luz prateada. assumindo um ar “professoral” disse-lhe que era pouco, pois ela não tinha luz própria, só refletia. olhou-me, como sempre olhava, ternura e meiguice infindas, sorriu e disse-me algo, mais ou menos assim: - “você acredita mesmo nisso, que a lua não tem luz?” – riu um riso gostoso e continuou – “tudo que existe é sinal de vida... tudo que vive tem luz... a gente é que não tem olhos de gato pra ver no escuro!”

por que será que tuas palavras me lembraram disso?!

feliz Ano Novo!

deixo um abraço fraterno.

Arábica disse...

Decifrar desígnios
na carne rasgada de lua.
Na casa rasgada a letra aberta.
Rasgue-se o tempo na leitura da tua Maré.

E um 2010 a rasgar todos os silêncios.

Um abraço grande.

Maria Poesia disse...

Linda poesia! Versos para reflectir! Bom encontrá-la por aqui! Feliz Ano Novo! Lacrima D'Oro

Jaime A. disse...

A este lugar-comum é difícil de fugir, mas aquilo que te desejo é sincero: um 2010 também fabuloso, em que todos os teus desejos se realizem mesmo até 31/12.
Um grande beijo cúmplice nas "letras"

maré disse...

y

dizes uma casa. corpo expandido de uma língua mãe. necessária. resguardo periférico do que corre nas veias. além os invernos da mágoa. a ser repouso. serena metáfora que acolhe a mão queimada do espanto do relâmpago.
e dizemos a viagem. memória onde o vento cavalga um sono metálico. dizes uma casa. disponível chão de uma voz que nos é latitude. andarilho sobrevivente a ser boca da oração. todos os dias. todos os anos. ainda que o céu seja chumbo. ainda que cego o voo dos pássaros.

___

Frutuoso Ano Y
abraço redondo

Anónimo disse...

que 2010 seja um ano pleno de poesias, querida luísa. basta seguires o instinto que tens revelado para cedo te afirmares perante todos :) um grande abraço*

Nilson Barcelli disse...

Querida amiga, ando com imensa falta de tempo. Mas, ainda que um pouco tarde, não poderia deixar de passar por aqui para te desejar um excelente 2010.
Beijos.

carlos disse...

Luísa, vou seguir o teu blog, porque gosto muito dos mares dos rios e das estrelas...Tenho muitos no meu blog. Beijos. Carlos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

boa poesia por aqui....

um bom ano!

beij

Anónimo disse...

Gosto muito do que escreves. O poema é lindíssimo!
Um Feliz Ano-Novo.
teresa p.

Isabel disse...

a.redondo.me então. para que seja sempre chegada o caminho!




obrigada Maré Alta!


beijo.


y.

Isabel Victor disse...

Uma lua cheia de talentos

(em marés de espanto)





e saio, mas antes deixo-te um beijo e votos de bom ano, uma maré cheia de dias felizes







iv

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

__________________________
_____________________________
_____________________
E não me chega o espaço para me distanciar ....
E retomo a leitura só preso a beleza , longe , muito longe!
abraço, Maré
_______ JRMARTO

Gabriela Rocha Martins disse...

um dia
deixarão de existir palavras capazes de comentar os teus poemas



.
um beijo

maré disse...

Teresa

muito obrigado!

re.endereço um grande abraço.
e foi um prazer imenso saber de si através de um rosto que nos é de afecto imenso.

_____

Um Ano Feliz

maré disse...

Gaby

Feliz por a "ver" por aqui,
abraço-a com imenso carinho.

além de um desejo que o 2010 seja uma ano prodigioso... e que as portas se abram :) [um dia destes acusam-me de assalto violento, tantas as tentativas infrutíferas de arrombar a sua porta]

maré disse...

y

" numa boca cheia de voos rente ao chão"

aqui me deixo no beijo.
errante e letárgico o cansaço que me adia as mãos. o meu corpo correndo como água em deserto.
eu m sorriso como ponte. sorriso para me ser chão.
amanhã será um dia que se quer de dedos caminhantes. recorte de terra. e mar. tanto mar!