segunda-feira, 14 de dezembro de 2009




sou cúmplice de uma pele antiga como a água:
não sei falar de ti sem que se dilate a gravidez de um rio.
pergunto como se desfaz a memória das mãos
quando a terra é um vulcão a abrigar a melopeia das aves.
inclino-te sobre um fogo repartido que ainda me arranha o corpo
para reconstruir-te de silêncio no descalabro do frio.
e assim como se prendesse uma palavra vagabunda
vou segurando a tua voz no final de um verso longo.
de quando em vez reconheço-te como sinuosa sombra
presa fácil de um rumor de fogueira antiga
que insistentemente transgride o pousio do meu corpo:
o lugar mais nómada onde hoje a noite queima.
ft: duarte. s e ana rita vaz

27 comentários:

maré disse...

querida Y

belíssima tecla… acorde celestial!

e quando a noite é lençol continuadamente serpente um dedo pode ser o salto. mais longe o penhasco. pode ser a escultura que tatua o símbolo do céu. a dor é o rosto dos dias. o longe do céu como tecto. e o apelo a um anjo é recado em mastro vazante. a ser página que sorve o movimento redondo dos passos .corrente sempre corrente. onde o tempo expurga o veneno inquietante do sangue.

OBRIGADA Y
( porque as palavras não crescem na medida exacta dos afectos?)

Manuel Veiga disse...

belas as marés que trazem à tona tão rara beleza!...

como espuma de cambraia envolvendo poderosíssimas metáforas.

belíssimas.

A.S. disse...

Tanta sombra escondida nos olhos de quem passa.
Tanto fervor na súplica inútil no descalabro do frio.
Tanta é a fúria do silêncio passado que nada sabemos de nós.
Como a noite queima!


Um beijo...
AL

A.S. disse...

Como gosto de abraços azuis!!!

Luis Eme disse...

quanta cumplicidade...

entre as palavras e a música.

palavras que não são vagabundas...

bjs Maré

vieira calado disse...

Muito bonito,

como outros seus

que tenho lido.

Bjs

Isabel disse...

as suas Palavras crescem.


sim.


como a mais insistente hera.



(obrigada)




muito.



y.

Mar Arável disse...

Soltas as palavras
abrem-se em desejos
pelo tempo fora
hinos que a memória não apaga

e dão à luz
pérolas de sons
que encantam só de te ouvir

Bjs

lobices disse...

"...que insistentemente transgride o pousio do meu corpo:
o lugar mais nómada onde hoje a noite queima..."
...
...excelente

Amelie disse...

isto é precioso... eres unha artista!

Amelie disse...

isto é precioso... eres unha artista!

Graça Pires disse...

Ao alcance das mãos, um inesperado rumor. Por dentro do fogo cresce uma fonte.Um grito de águas súbitas nas pequenas coisas...
Belo como sempre, Maré.
Um beijo enorme.

rogério disse...

o disposição literária augura um enorme potencial . :)

maria josé quintela disse...

ainda bem que certas cumplicidades despertam o contraste dos elementos nos corpos em pousio.


a colheita é muito bela.



um beijo.

Anónimo disse...

e como queimam as tuas palavras, maré :) a reler sempre e sempre a redescobrir... muitos parabéns. um grande beijinho*

Nilson Barcelli disse...

"inclino-te sobre um fogo repartido que ainda me arranha o corpo
para reconstruir-te de silêncio no descalabro do frio."
Querida amiga, escreves tão bem... o teu poema é soberbo. As tuas imagens poéticas são marcantes. Gostei imenso.
Beijos.

lupuscanissignatus disse...

a sus.tentação

do

fogo



[sem surpresas

mais um
delicadíssimo
coral]


*beijo*

Mié disse...

Belíssimo poema.

Sem mais palavras

Poeta.

um beijo

Gabriela Rocha Martins disse...

há mares que valem a pena transgredir


aos quais me associo

( transgredindo )



.
um beijo

Maria disse...

Sem mais palavras
porque o belo é para ser visto
(e lido!)

Beijo

Jaime A. disse...

(...) é a tua palavra sinuosa que segura o olhar, a maresia que resgata a sombra da palavra...
um resto de boa semana, maré,
em jeito de modinha, de morna neste frio prenunciador

Mar Arável disse...

Revisito-te

encantado

no meu silêncio

BJ

Virgínia do Carmo disse...

A memória das mãos é mesmo implacável... às vezes basta olharmos para elas e todas as sensações retornam à pele... mas também é por isso que alma nos cresce, acho eu...

Beijo de imensa ternura...

maré disse...

Gaby

ao passar por aqui receba um abraço.
abraço marítimo e uma voz que aguarda que um barco possa atracar

e um sorriso

Cristina Fernandes disse...

É sempre um prazer revistar as palavras nesta maré de espanto...
Um abraço,
Chris

vieira calado disse...

Olá, amiga!


Venho desejar-lhe

Óptima Quadra Natalícia.

Beijinho

Isabel disse...

beijos.

em noite fria ....


sempre.