domingo, 6 de dezembro de 2009




ouve:
o meu corpo adormece no que sobrou de pequenas sílabas.
nada digo que exceda as mãos possuídas de noite.
entre o credo e a confissão
o esquecimento é uma lua de chuva
que se dá à direcção caprichosa do vento.
sei-me longe das margens
da voz que me trazias nas manhãs para nascer
quando ainda não sabia que o destino das aves
é a ferocidade do sol e um país no exilo das línguas.
o eco é uma ferida na atracção dos espelhos.
um dia dar-me-ei ao silêncio mais profundo que emana das águas
e serei sua amante. cativa do sal que cristaliza a carne
serei do mar as líricas vogais de marinheiros sem porto.
dir- me-ás que o rio é uma canção triste a um caminho tão longo
mas tu não sabes ainda da água que se prende à minha sombra
como uma árvore onde a noite é mais perfeita.
e deixa que te diga: como morcegos contra a luz
um a um morreremos
com os incêndios do céu.



fts: carlos vicente

35 comentários:

Luis Eme disse...

ouvi-te...

mas nem todos os rios são tristes,

e podes estar num bote, com remos, mesmo distante das margens...

bjs Maré

Isabel disse...

fantástico e doce incêndio, este....




beijo....

Maria disse...

Soberbo este texto!
Deixaste-me sem palavras, Maré...

Um beijo.

maria josé quintela disse...

como quem diz que basta ser rio...






um beijo maré.

-

Breve Leonardo disse...

[física palavra para tão química magia! sobra da maré o melhor dos charcos da manhã!]

um imenso abraço

Leonardo B.

Graça Pires disse...

"quando ainda não sabia que o destino das aves é a ferocidade do sol e um país no exílio das línguas"...
Aprendeste que o destino das aves é também o teu destino: sobrevoar sobre as águas para enganar a sede.
Belíssimo, o teu poema, como sempre.
Um beijo.

Mar Arável disse...

Sem abdicar das memórias

mesmo que ardam as margens

cantaremos

por sobre as pátrias apócrifas

A.S. disse...

Maré...

As águas
tornaram-se esquivas
perante a ferocidade do sol.
Agora,
só temos a raíz dos dias
e enlouquecidas crinas do vento
soltas e febris
inquietantemente à espera
do nosso salto
cego e solitário
rumo aos incêndios dos céus...


Beijo...

Virgínia do Carmo disse...

Sublime composição poética, Maré... Como em tudo o que escreves, adoçaste mais uma vez, com a serenidade das palavras, a agitação da alma...

Desejo-te, do fundo do meu ser, um mar de bençãos que te saciem o coração...

Beijinho grande

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Sussuro Perfeito e essa luz que trata as palavras por tu ...
Um prazer , esta leitura .
abraço
____________ JRMarto

Licínia Quitério disse...

Poesia em estado puro. Sabendo dos incêndios.

Um beijo.

mariavento disse...

Ouve...é belíssima a tua escrita!!

lobices disse...

...fogo belo

isabel mendes ferreira disse...

bom dia "incêndio".







abraçooooooooooooooooooooo.

maré disse...

Y


“e a terra é sempre ventre” e oficina. matriz de lascas e suspiros. é tempo do lume. paridos rumores cintilantes e carvão. absurda inclinação a do destino das aves. magma das mãos onde a fogueira se acende a tecer o movimento da morte. chama e cinza. perpétua despedida.
e re.nascimento. uma vez outra vez. “sempre a primeira”.
cego o tempo em que o instante é substantivo das margens….


.

imensíssimo beijo

vieira calado disse...

Um belíssimo poema, minha amiga!

Você tem mesmo jeito.

Beijinhos

Manuel Veiga disse...

gostei muito do poema. excelente blog. voltarei seguramente.

uma revelação, que devo a Maria Manuel

Jaime A. disse...

a canção das águas,
feriu os ouvidos
das manhãs ponteagudas;
sentiu o olhar,
penetrante até doer;
que caminho tão longo
até ao esquecimento,
à planície dos juncos sem-fim...

isabel mendes ferreira disse...

obrigada. Maré.




.


beijo.

Nilson Barcelli disse...

Querida amiga, o teu poema é soberbo.
Está cheio de excelentes imagens poéticas. Exemplo:
"o esquecimento é uma lua de chuva
que se dá à direcção caprichosa do vento"
Parabéns pela tua magnífica criatividade poética.
Beijos.

Cristina Fernandes disse...

O tempo e o eterno incêndio da poesia...
Um abraço
Chris

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

poesia que tem tudo...desde a beleza das palavras e o fluir de quem mão para a escrever.

parabéns!

beij

Anónimo disse...

é a minha vez de dizer que o piresf tinha razão :) a tua poesia é diferente, maré. e especial... gosto cada vez mais :) beijinhos*

isabel mendes ferreira disse...

:)))))

que bom ver aqui a Alice....:)))


beijos Maré.Alta.

© Maria Manuel disse...

não sei que diga. li, reli e reli. fiquei cativa de cada verso, da beleza de cada imagem, da rara poeticidade do teu poema.

do nosso mar, digo eu: mmsr@sapo.pt
se quiseres, manda notícias ou diz das tuas águas. beijo.

lupuscanissignatus disse...

~líquida

labareda~


[voo que
nos consome]




*bom-fim-de
semana*

AnaMar (pseudónimo) disse...

Quando as palavras se incendeiam, há que dar tempo a que novas se inventem.
Voltarei quando tiver algumas para te comentar.
Apenas digo : sublime :-)

Bj

A.S. disse...

Vim reler-te, deixar-te um beijo e os votos de um final de semana tranquilo e feliz!

AL

célia disse...

eu que tenho memória de elefante, ou que já tive, agora nem tanto, acho lindo que o esquecimento seja lua de chuva
dada à direcção caprichosa do vento.

um poema lindo e sério...

Ianê Mello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ianê Mello disse...

Lindo e tocante teu poema.

No momento não encontro outras palavras.

Voltarei para visitar-te, com certeza.

Torno-me seguidora desde então.

Beijos.

isabel mendes ferreira disse...

e levei-a para lá...


boa noite Maré.

O Profeta disse...

À volta desta fogueira
Aquecem os corações, almas penadas
À volta desta fogueira ninguém foje
Todos contam lendas de pessoas encantadas

Todos rezam, todos pedem
Que desça o céu à terra
Todos falam de um anjo
Que travou uma santa guerra

Manto de água, mundo verde
Manhãs de sol posto no céu
Às vezes a luz perde-se na noite
À vezes um coração veste um negro véu


Mágico beijo

ausenda hilário disse...

Sem margens, sem dúvidas do teu enorme talento!

o destino das aves, jaz nas nossas mãos urdidas...de desencanto!

Beijo, Maré

A.S. disse...

Na alvura da tela que me deixaste, vibram todos os sons, gritam todas as cores...


Um beijo!
AL